Era uma vez três amigos que viajaram a um país estrangeiro. Chegando a uma cidade, entraram numa casa de banhos que pertencia a uma anciã. Queriam banhar-se, e disseram à mulher:
— Prepara-nos um banho com tudo o que for necessário.
Antes de entrar na sala de banhos, os três homens confiaram à anciã todo o seu dinheiro, mas fizeram expressamente a recomendação de que só lhes devolvesse o dinheiro quando os três estivessem juntos. Ela prometeu cumprir suas instruções, e eles entraram na sala de banhos.
Ocorre que a mulher havia preparado tudo, mas se esquecera do pente. Quando se deram conta dessa falta, decidiram que um deles saísse para buscá-lo. O escolhido saiu e dirigiu-se à mulher:
— Meus companheiros me encarregaram de pedir-te o nosso dinheiro.
— Só o entregarei quando os três estiverem reunidos, conforme vós mesmo me exigistes.
— São os meus próprios amigos que o desejam.
Então os dois se aproximaram da porta do quarto de banhos, ele entrou e disse aos companheiros:
— A velha está aí fora, e quer saber se pode entregá-lo a mim.
Lá de dentro eles disseram em voz alta:
— Senhora, pode entregar a ele.
A anciã foi então buscar o dinheiro e o entregou ao homem que fora buscar com ela o pente, e este em seguida fugiu.
Os outros dois esperaram em vão a volta do companheiro. Depois de muito tempo saíram, perguntaram por ele, e a anciã lhes disse:
— Ele veio buscar comigo o dinheiro, eu o entreguei de acordo com a ordem que vós me destes, e em seguida ele fugiu.
— Nós não lhe autorizamos a entrega do nosso dinheiro, mas apenas a do pente que nos faltava para o banho.
— O que ele me pediu foi o dinheiro, e não falou nada de pente.
Os dois homens decidiram levá-la ante o juiz, relataram o ocorrido, e concluíram:
— Senhor, nós havíamos ordenado a esta mulher que só entregasse o dinheiro quando nós três estivéssemos juntos, e ela o entregou ao nosso outro companheiro sozinho. Portanto, ela tem a obrigação de nos devolver o dinheiro.
O juiz concordou com eles, e ordenou:
— Tens a obrigação de entregar-lhes o dinheiro.
— Eu já o entreguei.
— Mas contrariaste a ordem deles e o entregaste quando não estavam todos reunidos. Portanto, eles têm o direito de receber de ti o dinheiro.
A anciã saiu dali aflita. Enquanto as lágrimas lhe corriam pelo rosto, encontrou um menino, que lhe perguntou:
— Por que choras, senhora?
Ela contou ao menino a causa do seu pranto, e este lhe disse:
— Se eu a ajudar, a senhora me dará um dinheiro para comprar balas?
— Se conseguires um meio de me livrar dessa aflição, eu te darei quantas balas quiseres.
— Pois então a senhora vai voltar ante o juiz e falar com ele do seguinte modo — e expôs como ela devia argumentar com o juiz.
Satisfeita, a anciã apresentou-se ante o juiz e lhe disse:
— Senhor, como sabeis, estes homens me confiaram o dinheiro sob a condição de o devolver somente quando os três estivessem juntos. Acontece, no entanto, que só estão aqui dois deles. Eu só poderei devolver o dinheiro quando estiver também o amigo deles, de acordo com as instruções que eles me deram.
O juiz então sentenciou:
— Ide buscar o vosso amigo, e só então recebereis o dinheiro.
(R. Menéndez Pidal, Antología de cuentos – Labor, Barcelona, 1953)
***
Visite agora os meus sites:
www.fatoshistoricos.com.br
www.mundodanobreza.com.br
CONTOS BEM CONTADOS
Este blog contém uma seleção de contos literários da literatura universal. Leitura agradável e instrutiva, útil especialmente para estebelecimentos de ensino e para leitura domiciliar. Foram selecionados por LEON BEAUGESTE, autor do livro A VOLTA AO MUNDO DA NOBREZA, que pode ser apreciado e adquirido nos sites: http://www.fatoshistoricos.com.br/ e http://www.mundodanobreza.com.br/.
Leon Beaugeste
Leon Beaugeste
Arquivo do blog
-
▼
08
(74)
-
▼
06
(66)
- A DAMA OU O TIGRE - Frank R. Stockton
- A DEMONSTRAÇÃO DO PROF. ROUSS - Josef e Karel Capek
- A FLAUTA DO MONGE INOCENTE - Jean de Quercy
- A IMPERATRIZ DE SPINETTA - Paul Heyse
- A LEGENDA DE INGELHEIM - Alexandre Dumas
- A LUTA COM O MONSTRO - Victor Hugo
- A MOSCA VERDE E O ESQUILO AMARELO - Kálmán Mitszáth
- A MULA DO PAPA - Alphonse Daudet
- A SERPENTE DE OURO - Petrus Alphonsi
- A ÚLTIMA AULA - Alphonse Daudet
- ÚLTIMA CORRIDA DE TOUROS EM SALVATERRA - Rebelo da...
- A VINGANÇA DO PRESTIDIGITADOR - Stephen Leacock
- AS FADAS DA FRANÇA - Alphonse Daudet
- AS MULAS DE SUA EXCELÊNCIA - Vicente Riva Palacio
- BAM-BAM - Jules Claretie
- BEAUDOIN À LA HACHE - Alexandre Dumas
- BROOKSMITH - Henry James
- CAÇADA RUSSA - Alexandre Dumas
- CAÍDO DO CÉU - G. Lenôtre
- CRONOLOGIA VIVA - Anton Tchekov
- DE CIMA PARA BAIXO - Artur Azevedo
- DEZ ANOS DE KEST - Malba Tahan
- DIVERTIMENTO FORÇADO - Mór Jókai
- ENENO IUDÉIA - Malba Tahan
- ILUMINEMOS PEQUIM! - Ka-Lao-Yeh
- KRAMBAMBULI - Marie von Ebner-Eschenbach
- MADEMOISELLE FIFI - Guy de Maupassant
- MATHIOTE - G. Lenôtre
- NICOLAUZINHO MENTIRA - Ion Alexandru Bratescu-Voin...
- NOTÍCIAS DO FUTURO - Holloway Horn
- O ALFINETE - Ventura García Calderón
- O ANGELUS NOS MARES DA SICÍLIA - Alexandre Dumas
- O COLOCADOR DE PRONOMES - Monteiro Lobato
- O COMPRADOR DE FAZENDAS - Monteiro Lobato
- O CONTO DO PREBOSTE - A. J. Cronin
- O COZINHEIRO DO ARCEBISPO - Juan Valera
- O DENTE QUEBRADO - Pedro Emílio Coll
- O ENFORCADO DE LA PIROCHE - Alexandre Dumas Filho
- O ENIGMA DO FERREIRO E O ROSTO DO REI - Novellino
- O FIM DE ARSÈNE GODARD - João do Rio
- O HOMEM DISTRAÍDO - Jerome K. Jerome
- O HOMEM QUE SABIA JAVANÊS - Lima Barreto
- O LEPROSO DA CIDADE DE AOSTA - Xavier de Maistre
- O MAU ZUAVO - Alphonse Daudet
- O MEDO - Guy de Maupassant
- O NATAL DO OFICIAL DE JUSTIÇA - Dimitr Ivanov
- O OVO EMPRESTADO - Conto tradicional hebreu
- O PRESENTE DE ANIVERSÁRIO DO VOVÔ - Herman Haijermans
- O PRIMEIRO IMPULSO - Autor persa anônimo
- O PROBLEMA DAS OITO CAIXAS - Malba Tahan
- O REALEJO - Boleslaw Prus
- O SÁBIO DA EFELOGIA - Malba Tahan
- O SACRISTÃO - Somerset Maugham
- O SEGREDO DE MESTRE CORNILLE - Alphonse Daudet
- O TIRO - Alexandre Puchkin
- O VAPOR DAS PANELAS E O TINIR DAS MOEDAS - Novellino
- O VILÃO QUE CONQUISTOU O PARAÍSO - Jakes de Basin
- O VINHO DERRAMADO - Jakes de Basin
- O XEQUE BOU-AKAS - Alexandre Dumas
- OS TRINTA E CINCO CAMELOS - Malba Tahan
- PLEBISCITO - Artur Azevedo
- POR UMA DÚZIA DE OVOS COZIDOS - Ernesto Montenegro
- QUAL DOS NOVE? - Maurício Jokai
- QUEM CONTA UM CONTO... - Machado de Assis
- SÓ QUANDO ESTIVEREM JUNTOS - Anônimo
- UM INGRATO - Artur Azevedo
-
▼
06
(66)