CONTOS BEM CONTADOS

Este blog contém uma seleção de contos literários da literatura universal. Leitura agradável e instrutiva, útil especialmente para estebelecimentos de ensino e para leitura domiciliar. Foram selecionados por LEON BEAUGESTE, autor do livro A VOLTA AO MUNDO DA NOBREZA, que pode ser apreciado e adquirido nos sites: http://www.fatoshistoricos.com.br/ e http://www.mundodanobreza.com.br/.

Leon Beaugeste

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sexta-feira

O LEPROSO DA CIDADE DE AOSTA - Xavier de Maistre

A parte meridional da cidade de Aosta é quase deserta, e parece nunca ter sido muito habitada. Vêem-se ali campos agricultados e planícies que têm por limites, de um lado, as antigas trincheiras erguidas pelos romanos para lhe servirem de muralha, e de outro, os muros dos jardins. Esta região solitária pode, contudo, interessar aos viajantes. Junto à porta da cidade estão as ruínas de um antigo castelo, onde, a crer na tradição popular, o Conde René de Chalans, impelido pelos furores do ciúme, deixou morrer de fome, no século XV, a princesa Maria de Bragança, sua esposa. Daí o nome de Bramafan (isto é, grito da fome), dado a esse castelo pela gente da terra. A anedota, de autenticidade contestável, torna esse pardieiro interessante para as pessoas sensíveis que a julgam verdadeira.
Além, a algumas centenas de passos, há uma torre quadrangular, arrimada ao muro antigo e construída com o mármore de que ele era outrora revestido: chamam-lhe a Torre do Terror, porque o povo durante muito tempo a imaginou habitada por espectros. As velhas da cidade de Aosta recordam-se perfeitamente de ter visto sair dali, pelas noites sombrias, uma grande mulher branca, com uma lâmpada na mão.
Faz cerca de quinze anos essa torre foi restaurada por ordem do governo e cercada de uma muralha, para dar abrigo a um leproso e separá-lo assim da sociedade, proporcionando-lhe todos os prazeres que poderia desfrutar em sua triste situação. O Hospital de São Maurício foi incumbido de prover-lhe à subsistência, e forneceram-lhe alguns móveis, bem como os instrumentos necessários ao cultivo de um jardim. Ali vivia ele desde muito, entregue a si mesmo, sem jamais ver ninguém, a não ser o padre que de tempo a tempo ia levar-lhe os socorros da religião e o homem que todas as semanas lhe conduzia as provisões do hospital.
Quando da guerra dos Alpes, no ano de 1797, um militar, encontrando-se na cidade de Aosta, certo dia passou por acaso perto do jardim do leproso, cuja porta se achava entreaberta, e teve a curiosidade de entrar. Lá encontrou um homem vestido com simplicidade, encostado a uma árvore e imerso em funda meditação. Ao rumor produzido pela entrada do oficial, o solitário, sem se voltar e sem volver os olhos, exclamou em voz triste:
— Quem é, e que deseja?
O militar respondeu:
— Perdoe, senhor, a um estrangeiro a quem o agradável aspecto de seu jardim levou talvez a cometer uma indiscrição, mas que de modo algum pretende perturbá-lo.
— Não se aproxime — retrucou o habitante da torre, fazendo-lhe sinal com a mão —, não se aproxime. O senhor está diante de um pobre leproso.
— Seja qual for o seu infortúnio, eu não me afastarei: nunca fugi dos desgraçados. Agora, se minha presença o importuna, estou pronto a retirar-me.
— Bem-vindo seja! — disse então o leproso, voltando-se de repente. — E fique, se for capaz depois de me haver olhado.
O militar permaneceu algum tempo imóvel, de espanto e terror ante o aspecto daquele infeliz, que a lepra desfigurara de todo.
— Ficarei de bom grado — declarou —, se o senhor aceita a visita de um
homem trazido aqui pelo acaso, mas que um vivo interesse aqui o retém.
O LEPROSO — Interesse!... Eu nunca despertei senão piedade.
O MILITAR — Julgar-me-ei feliz se porventura lhe puder oferecer algum consolo.
O LEPROSO — É para mim grande consolo ver homens, ouvir o som da voz humana, que parece fugir-me.
O MILITAR — Permita-me, pois, conversar alguns momentos com o senhor e percorrer sua morada.
O LEPROSO — De muito bom grado, se isto lhe pode dar prazer. (Dizendo isso, o leproso cobriu a cabeça com um largo chapéu de feltro, cujas abas caídas lhe ocultavam o rosto) Passe aqui ao meio-dia. Cultivo um pequeno canteiro de flores que lhe poderão agradar; encontrará, entre elas, algumas bastante raras. Obtive as sementes de todas as que brotam espontâneas nos Alpes, e tratei de dobrar o número delas e de as embelezar pela cultura.
O MILITAR — Com efeito, vejo aqui flores cuja aparência me é inteiramente nova.
O LEPROSO — Observe essa pequena moita de rosas: é a roseira sem espinhos, que só cresce nos pontos mais elevados dos Alpes; ela já perde, porém, essa peculiaridade, e rebentam-lhe espinhos, à medida que é cultivada e se multiplica.
O MILITAR — Ela deveria ser o emblema da ingratidão.
O LEPROSO — Se algumas destas flores lhe parecem belas, pode colhê-las sem receio, e não correrá nenhum risco levando-as consigo. Eu as semeei, tenho o prazer de regá-las e de as contemplar, mas nunca lhes ponho a mão.
O MILITAR — Mas por quê?
O LEPROSO — Poderia contaminá-las, e então não ousaria mais oferecê-las a ninguém.
O MILITAR — A quem as destina?
O LEPROSO — As pessoas que me trazem provisões do hospital não têm medo de fazer ramalhetes com elas. Uma vez ou outra, também os meninos da cidade chegam à porta do meu jardim. Mal os avisto, subo para a torre, receoso de amedrontá-los ou contagiá-los. Da minha janela, vejo-os brincar e furtar-me algumas flores. Quando partem, levantam os olhos para mim: “Bom dia, Leproso” — dizem-me a rir, e isto me alegra um pouco.
O MILITAR — O senhor conseguiu reunir aqui muitas e diversas plantas. Vejo vinhas e árvores frutíferas de várias espécies.
O LEPROSO — As árvores ainda estão novas. Plantei-as com as minhas mãos, assim como aquela vinha que fiz subir até além do muro antigo que ali vê, e cuja largura me oferece um pequeno lugar para passeio; é o meu recanto favorito... Suba ao longo destas pedras: é uma escada construída por mim. Agarre-se ao muro.
O MILITAR — Que retiro encantador! Como é propício às meditações de um solitário!
O LEPROSO — Eu também gosto muito dele. Daqui avisto a planície e os lavradores nos campos; vejo tudo o que se passa e não sou visto por ninguém.
O MILITAR — Admiro a tranqüilidade e solidão deste recanto. A gente está numa cidade e tem a impressão de achar-se num deserto.
O LEPROSO — Nem sempre é no meio das florestas e dos rochedos que existe a solidão. Em qualquer parte o desgraçado está só.
O MILITAR — Que série de acontecimentos o conduziu a este retiro? Este lugar é a sua pátria?
O LEPROSO — Nasci à beira-mar, no principado de Oneille, e faz apenas quinze anos que moro aqui. Quanto à minha história, não passa de uma longa e uniforme calamidade.
O MILITAR — Sempre viveu só?
O LEPROSO — Perdi meus pais quando criança, sem nunca os haver conhecido; uma irmã que me restava morreu há dois anos. Nunca tive um amigo.
O MILITAR — Coitado!
O LEPROSO — É a vontade de Deus.
O MILITAR — Qual o seu nome, por favor?
O LEPROSO — Ah! o meu nome é terrível: chamo-me o Leproso! Ninguém neste mundo sabe o nome que recebi de minha família e aquele que a religião me deu no dia de meu nascimento. Sou o Leproso: eis o único título que tenho à benevolência dos homens. Possam eles ignorar eternamente quem eu sou!
O MILITAR — Essa irmã que o senhor perdeu morava em sua companhia?
O LEPROSO — Ela viveu cinco anos comigo nesta mesma habitação onde o senhor me vê. Tão desgraçada quanto eu, compartia as minhas dores e eu procurava amenizar as suas.
O MILITAR — Em que se ocupa, numa solidão tão profunda?
O LEPROSO — A enumeração dos afazeres de um solitário como eu só poderia ser muito monótona para um homem do mundo, que encontra a ventura na atividade da vida social.
O MILITAR — Ah! o senhor conhece pouco este mundo, que nunca me deu a felicidade. Muitas vezes sou solitário por gosto, e há talvez entre as nossas idéias maior semelhança do que lhe parece. No entanto, confesso-lhe, a solidão eterna espanta-me; é-me difícil concebê-la.
O LEPROSO — Aquele que ama a sua cela, nela encontrará a paz — ensina-nos a Imitação de Jesus Cristo. Começo a experimentar a verdade destas palavras consoladoras. O sentimento de solidão abranda-se também pelo trabalho. O homem que trabalha nunca é inteiramente desgraçado, e eu sou a prova disto. Durante o verão a cultura do meu pomar e do meu cativeiro me ocupa suficientemente. Pelo inverno faço cestas e esteiras; trabalho no feitio das minhas vestes; preparo cada dia o meu alimento com as provisões que me trazem do hospital, e a prece me enche as horas de lazer. Enfim, o ano se escoa, e, depois que passou, ainda me parece ter sido muito curto.
O MILITAR — Deveria parecer-lhe um século.
O LEPROSO — Os males e os sofrimentos tornam as horas aparentemente longas; mas, em verdade, os anos voam sempre com a mesma rapidez. Aliás, ainda existe, no último extremo do infortúnio, um prazer que o comum dos homens não pode sentir, e que o senhor achará bem estranho: é o prazer de existir e de respirar. No verão, passo dias inteiros imóvel sobre esta muralha, deliciando-me com o ar e os esplendores da natureza: todas as minhas idéias, então, são vagas, indecisas; a tristeza me repousa no coração sem o oprimir; meus olhos erram por essa planície e pelos rochedos que nos cercam. Estes diferentes aspectos se acham de tal modo impressos na minha memória que, por assim dizer, fazem parte de mim mesmo; e cada um deles é um amigo que eu vejo com prazer todos os dias.
O MILITAR — Por várias vezes tenho sentido algo semelhante. Quando o sofrimento me abate, e não encontro no coração dos homens o que o meu deseja, a vista da natureza e das coisas inanimadas serve-me de consolo; afeiçôo-me aos rochedos e às árvores, e todos os seres da criação, para mim, são amigos que Deus me deu.
O LEPROSO — O senhor me anima a explicar-lhe também o que se passa comigo. Eu amo verdadeiramente os objetos que são, por assim dizer, meus companheiros de vida, e que vejo cada dia: todas as tardes, antes de recolher-me à torre, venho saudar as geleiras de Ruitorts, os bosques sombrios do monte de São Bernardo e os majestosos cumes que dominam o vale de Rhème. Conquanto o poder divino seja tão visível na criação de uma formiga como na do Universo inteiro, o grande espetáculo das montanhas maravilha mais os meus sentidos: não posso ver estas massas enormes, recobertas de gelos eternos, sem que sinta um êxtase religioso. Mas, neste vasto quadro que me cerca, há trechos favoritos, que amo de preferência: entre eles, a ermida que o senhor vê lá no alto, no cume da montanha de Charvensod. Isolada entre os bosques, ao pé de um campo deserto, ela recebe os últimos raios do poente. Embora nunca tenha estado lá, experimento grande alegria em vê-la. Ao cair da tarde, sentado em meu jardim, fixo o olhar naquela ermida solitária, e minha imaginação nela repousa. Ela se me tornou uma espécie de propriedade; parece-me que uma vaga reminiscência me diz que eu ali vivi outrora, em tempos mais felizes cuja lembrança se apagou em mim. Gosto sobretudo de contemplar as montanhas longínquas, que se confundem com o céu no horizonte. Tal como o futuro, a distância me faz nascer o sentimento da esperança; meu coração opresso acredita existir talvez uma terra muito remota, onde, em época futura, poderei provar enfim essa felicidade pela qual suspiro, e que um instinto secreto me dá sempre como possível.
O MILITAR — Com uma alma assim ardente, decerto lhe foi preciso muito esforço para se resignar ao seu destino e não se entregar ao desespero.
O LEPROSO — Enganá-lo-ia se o fizesse crer que estou sempre resignado à minha sorte; jamais atingi essa abnegação a que chegaram alguns anacoretas. Essa absoluta renúncia a todas as afeições humanas, ainda não a alcancei: minha vida se passa em lutas contínuas, e os poderosos socorros da própria fé nem sempre são capazes de me reprimir os surtos da imaginação. Muitas vezes ela me arrasta, mau grado meu, a um oceano de desejos quiméricos, que me conduzem, todos, a esse mundo de que não tenho a mínima idéia, e cuja imagem fantástica vive sempre ante os meus olhos para me atormentar.
O MILITAR — Se eu lhe pudesse fazer ler na minha alma, e dar-lhe do mundo a idéia que tenho, todos os seus desejos e tormentos se dissipariam num instante.
O LEPROSO — Debalde alguns livros me instruíram sobre a perversidade dos homens e as desgraças inerentes à humanidade: meu coração se recusa a acreditá-los. Imagino sempre sociedades de amigos sinceros e virtuosos: casais em harmonia, felizes, largamente favorecidos pela saúde, mocidade e riqueza. Creio vê-los a passear juntos em bosques mais verdes e mais frescos do que esses que me oferecem sombra, aquecidos por um sol mais brilhante do que o sol que me alumia, e a sorte deles me parece tanto mais digna de inveja quanto mais miserável é a minha sorte. No começo da primavera, quando o vento do Piemonte sopra em nosso vale, sinto-me penetrado pelo seu calor vivificante, e sem querer estremeço de alegria. Vem-me um desejo inexplicável, e o sentimento impreciso de uma felicidade imensa que eu poderia gozar e que me foi negada. Então fujo da minha cela, ponho-me a errar pela campina para respirar mais livremente. Evito ser visto por estes mesmos homens que o meu coração tanto anseia encontrar; e do alto da colina, escondido entre as urzes como um animal selvagem, o meu olhar se derrama sobre a cidade de Aosta. Vejo de longe, com olhos de inveja, os seus felizes habitantes, que mal me conhecem; estendo-lhes as mãos entre suspiros, e peço-lhes o meu quinhão de felicidade. No meu enlevo — deverei confessá-lo? —, por vezes tenho estreitado nos braços as árvores da floresta, rogando a Deus que as anime para mim, e me dê um amigo! Porém as árvores são mudas; sua fria casca me repele; nada têm de comum com o meu coração, que arde e palpita. Exausto, cansado da vida, arrasto-me de novo para o meu retiro; exponho a Deus os meus tormentos, e a prece me traz à alma um pouco de tranqüilidade.
O MILITAR — Pobre coitado! Sofre então, ao mesmo tempo, de todos os males da alma e do corpo?
O LEPROSO — Estes últimos não são os mais cruéis.
O MILITAR — Será que eles algumas vezes lhe dão trégua?
O LEPROSO — Todos os meses eles aumentam e diminuem com o curso da Lua. Quando ela começa a aparecer, ordinariamente eu sofro mais; depois a doença atenua-se, e parece mudar de natureza; minha pele seca e embranquece, e quase deixo de sentir o meu mal; mas este seria sempre suportável, se não fossem as horríveis insônias que me causa.
O MILITAR — O quê! Perde o sono?
O LEPROSO — Ah, senhor! As insônias! As insônias! Não pode imaginar quanto é longa e triste uma noite inteira que um desgraçado passa sem fechar os olhos, com a idéia fixa numa situação horrível e num futuro sem esperança. Não! ninguém o pode compreender. Minhas inquietações recrudescem à proporção que a noite avança; e quando ela está perto de chegar ao fim, tal é a minha agitação, que não sei a que ponto há de ir; baralham-se-me os pensamentos; apodera-se de mim uma sensação estranha, que nunca experimento senão nesses amargos instantes. Ora tenho a impressão de que uma força irresistível me impele a um abismo sem fundo; ora vejo ante os olhos manchas negras; mas, enquanto as examino, elas se cruzam com a rapidez do relâmpago, aproximam-se de mim, avolumando-se, e dentro em pouco são montanhas que me oprimem com seu peso. Outras vezes, vejo nuvens a sair da terra em derredor de mim, como ondas que se intumescem, se amontoam e ameaçam devorar-me; e quando quero levantar-me para distrair-me de tais idéias, sinto-me como que retido por invisíveis liames que me tiram as forças. Há de pensar, talvez, que são meros sonhos. Não, estou perfeitamente acordado. Revejo sem cessar os mesmos objetos, e é uma sensação de horror que ultrapassa todos os meus outros males.
O MILITAR — É possível que o senhor tenha febre durante essas cruéis insônias, e é ela sem dúvida que lhe provoca essa espécie de delírio.
O LEPROSO — Acredita que possa ser efeito da febre? Ah! Gostaria muito que o senhor estivesse dizendo a verdade. Até agora receava que essas visões fossem um sintoma de loucura, e confesso-lhe que isto me inquietava muito. Queira Deus seja realmente a febre!
O MILITAR — O senhor me interessa vivamente. Confesso que jamais teria feito idéia de uma situação semelhante à sua. Penso, porém, que ela devia ser menos triste quando sua irmã era viva.
O LEPROSO — Só Deus sabe o que perdi com a morte de minha irmã... Mas o senhor não tem receio de ficar tão perto de mim? Sente-se aqui, nesta pedra; eu me porei atrás da folhagem, e conversaremos sem nos vermos.
O MILITAR — Por quê? Não, o senhor não me deixará. Fique perto de mim. (pronunciando estas palavras, o viajante fez um movimento involuntário para apertar a mão do Leproso, que vivamente a desviou).
O LEPROSO — Imprudente! Ia apertar a minha mão!
O MILITAR — Ora! Apertá-la-ia com todo o gosto.
O LEPROSO — Seria a primeira vez que eu experimentaria essa felicidade. Minha mão nunca foi estreitada por ninguém.
O MILITAR — O quê! Afora essa irmã de quem me falou, nunca teve outra ligação, nunca teve a amizade de nenhum dos seus semelhantes?
O LEPROSO — Para felicidade dos homens, não me resta nenhum semelhante sobre a Terra.
O MILITAR — O senhor me faz tremer!
O LEPROSO — Perdoe, compassivo estrangeiro! Bem sabe que os desgraçados gostam de falar dos seus infortúnios.
O MILITAR — Fale, fale, senhor! Disse-me que uma irmã vivia outrora em sua companhia, e o ajudava a suportar os sofrimentos.
O LEPROSO — Era o laço que ainda me prendia ao resto dos seres humanos! Prouve a Deus rompê-lo e deixar-me isolado e só dentro do mundo. Sua alma era digna do Céu, que a possui, e seu exemplo me servia de arrimo contra o desânimo, que tantas vezes me prostra depois que ela morreu. Entretanto, nós não vivíamos nessa deliciosa intimidade que eu imagino, e que deveria unir amigos desgraçados. O gênero de nossos males nos privava de tal consolação. Mesmo quando nos aproximávamos a fim de orar a Deus, tínhamos o cuidado de não nos fitarmos um ao outro, de medo que o espetáculo dos nossos males perturbasse as nossas meditações, e nossos olhares já não ousavam encontrar-se, senão no Céu. Terminadas as preces, minha irmã ordinariamente se retirava para a sua cela ou ia repousar sob as avelaneiras que limitam o jardim, e vivíamos quase sempre separados.
O MILITAR — Mas por que essa dura limitação?
O LEPROSO — Quando minha irmã foi acometida pela moléstia contagiosa que vitimou toda a minha família, e veio compartir a minha solidão, nunca nos tínhamos visto. Extraordinário foi o seu espanto ao avistar-me pela primeira vez. O receio de afligi-la, o receio ainda maior de agravar-lhe o mal aproximando-me dela, forçaram-me a adotar esse triste gênero de vida. A lepra lhe atacara só o peito, e eu conservava ainda alguma esperança de vê-la curada. Está vendo esse resto de caniçada que deixei de tratar? Era, naquele tempo, uma cerca-viva de lúpulos que eu mantinha com cuidado, e que dividia o jardim em duas partes. Eu abrira de cada lado uma pequena trilha, ao longo da qual podíamos passear e conversar juntos sem nos vermos e sem nos aproximarmos em excesso.
O MILITAR — Dir-se-ia que os Céus se compraziam em envenenar os tristes prazeres que lhe deixavam.
O LEPROSO — Mas pelo menos eu não era só, então. A presença de minha irmã dava vida a este retiro. Ouvia-lhe o rumor dos passos, em minha solidão. Quando, ao nascer do dia, eu vinha fazer preces a Deus sob estas árvores, a porta da torre abria-se devagar e a voz de minha irmã se misturava insensivelmente à minha voz. Pela tardinha, quando eu regava o meu jardim, ela passeava, por vezes, ao pôr-do-sol, aqui, no mesmo lugar de onde lhe estou falando, e eu via a sua sombra ir e vir entre as minhas flores. Ainda que não a visse, achava por toda parte vestígios de sua presença. Agora já não me acontece encontrar no meu caminho uma flor desfolhada ou algum ramo de arbusto, que ela deixava cair ao passar; estou sozinho. Já não há movimento nem vida em torno de mim, e o caminho que levava ao seu bosque favorito desapareceu sob a relva. Sem parecer ocupar-se comigo, ela vivia a procurar todos os meios de me dar prazer. Ao entrar no meu quarto, eu por vezes me surpreendia de encontrar vasos com flores novas, ou algum belo fruto que ela tratara e colhera com as suas próprias mãos. Receava fazer-lhe idênticas amabilidades, e rogara-lhe até que nunca entrasse em meu quarto. Mas quem pode impor limites à afeição de uma irmã? Basta um caso para lhe dar idéia da ternura que ela me votava. Uma noite, caminhava eu a largos passos em minha cela, martirizado por dores horríveis. Já bem tarde, havendo-me sentado um instante para repousar, ouvi ruído à entrada do quarto. Aproximo-me, escuto. Imagine o meu espanto: era minha irmã, que orava a Deus da parte de fora da soleira da porta. Ela ouvira os meus lamentos. Sua ternura dera-lhe o receio de inquietar-me; mas achava-se ali, para mais facilmente me socorrer em caso de necessidade. Ouvi-a recitar em voz baixa o Miserere. Ajoelhei-me junto à porta e, sem a interromper, acompanhei-lhe mentalmente as palavras. Meus olhos estavam rasos de lágrimas. Quem não se comoveria com semelhante afeto? Quando julguei terminada sua oração, disse-lhe em voz baixa: “Adeus, minha irmã, adeus. Retira-te, eu me sinto um pouco melhor. Deus te abençoe e recompense a tua piedade!” Ela se foi, em silêncio, e decerto sua prece foi ouvida, pois dormi, afinal, durante algumas horas, um sono tranqüilo.
O MILITAR — Como lhe devem ter sido tristes os primeiros dias depois da morte dessa irmã querida!
O LEPROSO — Levei muito tempo numa espécie de estupor, que me privava da faculdade de sentir em toda a extensão o meu infortúnio. Quando finalmente voltei a mim, e me tornei capaz de julgar a minha situação, estive a ponto de enlouquecer. Esse período me será sempre duplamente triste; ele me faz lembrar a maior das minhas desgraças e o crime que por um triz ela não trouxe como conseqüência.
O MILITAR — Crime! Não posso imaginá-lo capaz disso.
O LEPROSO — É a pura verdade. Contando-lhe essa época de minha vida, bem sinto que perderei muito em sua estima; mas não me posso pintar melhor do que sou; e o senhor, condenando-me, talvez me lamente. Já desde antes, surgira-me a idéia de deixar voluntariamente a vida. Contudo, o temor de Deus me levara a repeli-la, quando a circunstância mais simples, e aparentemente a menos própria para me inquietar, por pouco não me perdeu para a eternidade. Eu acabava de sofrer novo tormento. Desde alguns anos, vivia em nossa companhia um cãozinho. Minha irmã gostava dele, e confesso-lhe que, após a morte dela, o pobre animal era para mim verdadeiro consolo.
Devíamos, decerto, à sua fealdade a escolha que ele fizera da nossa morada para seu refúgio. Fora enxotado por toda gente; mas era, ainda assim, um tesouro para a casa do Leproso. Em prova da gratidão pelo favor que Deus nos concedera dando-nos esse amigo, minha irmã pusera-lhe o nome de Milagre. E este nome, contrastante com a feiúra do animal, bem como a sua contínua alegria, muitas vezes nos distraíram dos nossos padecimentos. Não obstante o cuidado que eu tinha com ele, uma vez ou outra ele fugia, e eu nunca imaginara que isto pudesse ser prejudicial a ninguém. No entanto, alguns habitantes da cidade se alarmaram, crentes de que o animal poderia espalhar entre eles o germe da minha doença; resolveram apresentar queixa à autoridade, que mandou matar imediatamente o meu cão. Não tardou que à minha casa chegassem soldados, em companhia de alguns habitantes, para executarem essa ordem cruel. Lançaram-lhe uma corda ao pescoço, em minha presença, e arrastaram-no. Quando o cãozinho chegou à porta do jardim, não pude conter o desejo de olhá-lo mais uma vez. Vi-o voltar os olhos para mim, pedindo-me um socorro que eu não poderia dar. Pretendiam afogá-lo no Doire, mas a populaça que o esperava lá fora o abateu a pedradas. Escutei-lhe os gritos, e entrei na minha torre mais morto do que vivo. Os joelhos trêmulos não podiam suster-me. Atirei-me ao leito, num estado impossível de descrever. Minha dor não me permitiu ver naquela ordem justa, mas severa, mais do que uma barbárie tão atroz quanto inútil; e, posto que hoje experimente vergonha do sentimento que me animava então, ainda não consigo pensar nisso a frio. Passei o dia inteiro na maior agitação. Era o último ser vivo que me acabavam de arrancar, e esse novo golpe viera reabrir-me todas as chagas da alma.
Era esse o meu estado quando, no mesmo dia, ao pôr-do-sol, vim sentar-me aqui, nessa pedra onde o senhor está sentado. Meditava desde algum tempo na minha triste sorte, quando lá longe, ali por aquelas duas bétulas que limitam a sebe, vi surgirem dois jovens recém-casados. Caminhavam ao longo da trilha, através do prado, e passaram perto de mim. Nas suas belas fisionomias lia-se a deliciosa tranqüilidade que inspira uma felicidade certa. Marchavam lento, de braços entrelaçados. De súbito, vi-os parar: a jovem deixou pender a cabeça sobre o peito do marido, que a apertou nos braços com arrebatamento. Segui-os com os olhos até o fim da planície, e já iam desaparecendo entre as árvores, quando me chegaram aos ouvidos gritos de alegria: eram as famílias do casal que, reunidas, vinham ao seu encontro. Velhos, mulheres e crianças rodeavam-nos; eu escutava o confuso murmúrio da alegria; via entre as árvores as brilhantes cores de suas vestes, e o grupo inteiro parecia envolto numa nuvem de ventura. Não pude suportar semelhante espetáculo; haviam-me invadido o coração os tormentos do inferno; desviei os olhos e precipitei-me na minha cela. Meu Deus! como me pareceu deserta, sombria, medonha! “É aqui — pensei — que a minha morada se acha estabelecida para sempre; aqui é que eu, arrastando uma vida deplorável, atingirei o tardio fim dos meus dias! O Eterno esparziu a felicidade, esparziu-a em torrentes sobre tudo o que respira; e eu, só eu! Sem amparo, sem amigos, sem companheiros... Horrível destino!”
Cheio de tristes pensamentos, esqueci que há um Ser consolador, esqueci-me de mim mesmo. E dizia comigo: “Por que não me foi negada a luz? Por que razão a natureza não é injusta e madrasta senão para mim? Como criança deserdada, eu tenho sob os olhos o rico patrimônio da família humana, e o Céu avaro me recusa a minha parte. Não, não! — exclamei, por fim, num acesso de cólera — Para ti não há felicidade sobre a Terra: morre, desgraçado, morre! Durante muito tempo sujaste a Terra com a tua presença; possa ela tragar-te vivo e não deixar vestígio da tua odiosa existência!”
Como fosse gradativamente crescendo o insensato furor, o desejo de me destruir apoderou-se de mim, e nele se concentraram todos os meus pensamentos. Concebi, afinal, a resolução de incendiar o meu abrigo e deixar-me consumir com tudo aquilo que pudesse representar alguma lembrança de mim. Agitado, furioso, saí campo fora; errei algum tempo na sombra, em torno de minha habitação. Do peito opresso brotavam-me gritos involuntários, que a mim próprio me espantavam no silêncio da noite. Tornei a casa desesperado, a gritar: “Desgraçado de ti, Leproso! desgraçado de ti!” E, como se tudo houvesse de contribuir para a minha perdição, ouvi o eco que, de entre as ruínas do castelo de Bramafan, repetiu claramente: “Desgraçado de ti!” Parei, tomado de horror, à porta da torre, e o eco esmorecido da montanha repetiu muito depois: “Desgraçado de ti!”
Tomei de uma lâmpada e, resolvido a atear fogo à minha habitação, desci ao quarto mais baixo, levando comigo sarmentos e ramos secos. Era o quarto que minha irmã habitara, e eu nunca tinha entrado ali depois que ela morrera; sua poltrona ainda estava na mesma posição de quando eu retirara dela o corpo pela última vez. Senti um frêmito de horror, ao ver o seu véu e algumas partes das suas vestes espalhados pelo quarto. As últimas palavras que ela pronunciara antes de sair dali estavam-me impressas no pensamento: “Morrendo, eu não te abandonarei; lembra-te de que estarei presente em tuas aflições”. Depondo a lâmpada sobre a mesa, percebi o cordão da cruz que ela trazia ao pescoço, e que pusera com as próprias mãos entre duas folhas da sua bíblia. A esta visão, recuei possuído de sagrado terror. A profundidade do abismo em que eu me ia precipitar representou-se-me de súbito ante os olhos muito abertos. Aproximei-me, trêmulo, do livro santo: “Eis aí, eis aí — exclamei — o socorro que ela me prometeu!” Tirando da bíblia a cruz, encontrei ali uma carta lacrada, que minha boa irmã me deixara. As lágrimas, até então retidas pela dor, escaparam-se em torrentes. Todos os meus projetos sinistros se desvaneceram num instante. Estreitei longamente ao peito, antes de a ler, essa carta preciosa; e, caindo de joelhos para implorar a misericórdia divina, abri-a, e li entre soluços as seguintes palavras, que ficarão eternamente gravadas em minha alma:
“Meu irmão:
Tenho de deixar-te em breve, mas não te abandonarei. Do Céu, para onde espero ir, velarei por ti. Implorarei a Deus que te dê coragem para suportar a vida com resignação, até que lhe apraza reunir-nos no outro mundo. Então eu te poderei mostrar toda a minha afeição; nada me impedirá de aproximar-me de ti, e nada nos poderá separar. Deixo-te a pequena cruz, que trouxe comigo a vida inteira; ela muitas vezes me serviu de alívio aos sofrimentos, e minhas lágrimas não conheceram jamais outra testemunha senão ela. Recorda-te, quando a vires, de que meu último desejo foi que pudesses viver ou morrer como bom cristão”.
Carta querida! Nunca me separarei dela, levá-la-ei comigo à sepultura; ela é que me abrirá as portas do Céu, que o meu crime deveria fechar-me para sempre. Ao terminar de lê-la, senti-me desfalecer, esgotado por tudo o que acabava de experimentar. Vi uma nuvem espalhar-se-me ante os olhos, e perdi por algum tempo a lembrança dos meus males e o sentimento da minha existência. Quando recobrei os sentidos, era alta noite. Ao passo que as minhas idéias se aclaravam, invadia-me um indefinível sentimento de paz. Tudo quanto se passara me parecia um sonho. Meu primeiro impulso foi levantar os olhos para o Céu, agradecendo-lhe o haver-me preservado da maior das desgraças. Jamais o firmamento me parecera tão sereno e tão belo. Brilhava uma estrela diante da minha janela; contemplei-a esquecidamente, com indescritível prazer, dando graças a Deus por me haver concedido ainda a alegria de vê-la, e experimentava secreto consolo em pensar que um dos seus raios era destinado à triste cela do Leproso.
Voltei ao meu quarto mais tranqüilo. Passei o resto da noite a ler o Livro de Jó, e o santo entusiasmo de que ele me invadiu a alma terminou dissipando por inteiro as negras idéias que me haviam atormentado. Quando minha irmã era viva, eu jamais conhecera momentos assim horríveis. Bastava-me sabê-la perto de mim, para manter-me mais calmo, e só o pensar na afeição que ela me consagrava, só isto chegava para me consolar e dar estímulo. Deus o livre, compassivo estrangeiro, de ser obrigado a viver só! Minha irmã, minha companheira, já não existe, mas os Céus me darão forças para suportar corajosamente a vida. Assim o espero, pois sempre o rogo a Deus de todo o coração.
O MILITAR — Que idade tinha sua irmã, quando a perdeu?
O LEPROSO — Tinha apenas vinte e cinco anos, mas os sofrimentos faziam-na parecer mais idosa. Apesar da moléstia que a levou, e que lhe alterara os traços, ainda seria bela se não a desfigurasse uma aterradora palidez. Era a imagem viva da morte, e eu não podia vê-la sem suspirar.
O MILITAR — Perdeu-a muito moça.
O LEPROSO — Sua compleição frágil e delicada não podia resistir a tantos males reunidos. Desde algum tempo eu notava que teria inevitavelmente de perdê-la, e tal era a sua triste sorte, que me via forçado a desejar essa perda. Vendo-a definhar e aniquilar-se dia a dia, eu observava com sinistro regozijo aproximar-se o termo do seu martírio. Já desde um mês antes sua fraqueza aumentara; desmaios freqüentes ameaçavam-lhe a vida de hora em hora. Uma noite (era pelos começos de agosto), notei-a tão abatida, que não quis deixá-la. Estava em sua poltrona, pois fazia alguns dias que não lhe era possível suportar o leito. Sentei-me junto a ela, e na escuridão mais densa tivemos a nossa última conversa. Eu não podia conter as lágrimas, agitava-me um cruel pressentimento. “Por que choras? — ela me perguntava — Por que te afliges assim? Morrendo, eu não te abandonarei; estarei presente em todas as tuas aflições”.
Alguns momentos depois, manifestou-me o desejo de ser levada para fora da torre e fazer suas preces no bosque de avelaneiras, onde passava a maior parte do verão. Dizia-me: “Quero morrer fitando o Céu”. Entretanto, eu não pensava que a sua hora estivesse tão próxima. Tomei-a nos braços, para conduzi-la. “Basta que me segures — pediu. — Talvez ainda me restem forças para caminhar”. Lentamente a conduzi até as avelaneiras. Formei-lhe um tapete, com folhas secas que ela mesma juntara, e tendo-a coberto com um véu, a fim de preservá-la da umidade da noite, coloquei-me perto dela. Ela, porém, desejou estar sozinha em sua última meditação. Afastei-me, sem perdê-la de vista. De quando em quando via o véu elevar-se e suas brancas mãos se dirigirem para o Céu. Como eu me aproximasse do bosquezinho, ela pediu-me água. Dei-lhe de beber em seu copo, ela molhou os lábios mas não pôde beber. “Sinto chegar o meu fim — disse-me, volvendo a cabeça. — Minha sede não tardará a ser estancada para sempre. Segura-me, meu irmão, ajuda tua irmã a transpor este caminho desejado, mas terrível. Segura-me... reza a prece dos agonizantes”. Foram as últimas palavras que me dirigiu. Reclinou a cabeça no meu peito. Rezei a prece dos agonizantes. “Passa à eternidade, minha cara irmã! — dizia-lhe eu. — Liberta-te da vida; deixa em meus braços estes despojos!” Durante três horas a sustive assim, na última luta da natureza; por fim ela se extinguiu docemente, e sua alma se desprendeu, sem esforço, da Terra.
Ao fim da história, o Leproso cobriu o rosto com as mãos. A dor deixava sem voz o viajante. Passado um instante de silêncio, o Leproso levantou-se:
— Estrangeiro, quando a aflição ou o desânimo se aproximarem de sua alma, pense no solitário da cidade de Aosta. Assim, espero não lhe haja feito uma visita inútil.
Encaminharam-se juntos à porta do jardim. No momento de despedir-se, o Militar falou ao Leproso, calçando com uma luva a mão direita:
— O senhor nunca apertou a mão de ninguém. Faça-me o favor de apertar a minha: é a mão de um amigo que se interessa vivamente pela sua sorte.
O Leproso recuou alguns passos, com uma espécie de terror. Erguendo os olhos e as mãos ao Céu, exclamou:
— Deus de bondade, cobre com tuas bênçãos essa alma caridosa!
— Conceda-me então outro favor — continuou o viajante. — Vou partir, e talvez por muito tempo não nos tornemos a ver. Não poderíamos, com as precauções necessárias, corresponder-nos algumas vezes? É possível que isto lhe seja uma distração, e para mim seria grande prazer.
E o Leproso, depois de refletir um pouco:
— Para que tentar iludir-me? Eu não devo ter outra sociedade senão eu mesmo, outro amigo senão Deus. Nele nos tornaremos a ver. Adeus, generoso estrangeiro. Seja feliz... Adeus para sempre!
O viajante se foi. O Leproso fechou a porta e passou-lhe os ferrolhos.


(Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Paulo Rónai, Mar de histórias – Nova Fronteira, vol. 2, p. 273)

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